Centrinho-USP: força-tarefa opera 74 pacientes
Ação mobilizou equipe do Hospital e teve participação de estudantes de Medicina e Odontologia e de residentes

“A mudança será mais sobre como as pessoas me veem do que como eu me vejo”. É assim que o paciente Gabriel Costa Carneiro Pereira, 16 anos, de Goiânia (GO), resume a expectativa para a cirurgia que veio realizar no Centrinho-USP na última semana. “Finalmente, vou poder ter um sorriso mais bonito e ter uma vida melhor. O rosto é um cartão de visita. Um sorriso bonito ajuda muito, percebo que o mercado de trabalho exige. Para mim, [essa cirurgia] terá um efeito muito positivo sobre como as pessoas olham, pois, muitas vezes, elas já excluem pela aparência”, afirma o jovem, que faz tratamento no Hospital bauruense desde os três meses de vida, cursa o segundo ano do ensino médio e deseja cursar Biologia.
Gabriel foi um dos 74 pacientes operados durante a Semana de Cirurgia de Enxerto Ósseo de Bauru, realizada de 06 a 10 de maio pelo Hospital de Reabilitação de Anomalias Craniofaciais (HRAC/Centrinho) da USP, em parceria com a ONG Smile Train, que apoia centros de tratamento de fissura labiopalatina no Brasil e em diversos países.

Para a dona de casa Lilian Deise Soares Oliveira, 42 anos, de Vitória (ES), “essa iniciativa foi importantíssima, principalmente para pacientes que têm fissura bilateral [nos dois lados]”. O filho dela, Gabriel Oliveira Ramos, 12 anos, também foi um dos pacientes operados. “A expectativa do meu filho é a melhora estética. Para mim, é o tratamento dele evoluindo, porque o enxerto é necessário para dar sequência a outras etapas. Para nós, esse mutirão foi a melhor coisa que aconteceu. Torcemos para que venham outros e mais crianças sejam beneficiadas”, relata.
Lilian conta que essa é a terceira cirurgia de Gabriel, paciente do Centrinho-USP desde bebê. “Ficamos ansiosos, o coração fica a mil, mas a expectativa é muito boa. Aqui fazemos amigos, sabemos que nosso filho está em boas mãos, com bons profissionais, e Deus também está abençoando”.

O procedimento
O enxerto ósseo alveolar é uma cirurgia que reconstitui o osso do arco dentário em pacientes com fissura labiopalatina. É uma etapa avançada do tratamento, sendo indicada por volta dos dez anos de idade, podendo variar conforme as condições odontológicas de cada paciente.
O procedimento visa preencher e criar estrutura na região do arco dentário onde há defeito ósseo. Para tanto, é utilizado osso do próprio paciente, retirado da crista ilíaca (na região do quadril) ou do mento (queixo). Todo o procedimento cirúrgico dura em torno de duas horas, envolvendo equipe médica, odontológica e de enfermagem.

De acordo com a cirurgiã-dentista Roberta Martinelli Carvalho, chefe técnica da Seção de Cirurgia Bucomaxilofacial do Centrinho-USP, “o impacto dessa força-tarefa foi muito positivo. Na rotina normal, são realizadas cerca de dez cirurgias de enxerto ósseo por mês, nessa ação foram 74 em uma semana”.
A cirurgiã ressalta ainda que essa é uma etapa fundamental do tratamento de pacientes com fissura labiopalatina. “A cirurgia de enxerto ósseo reconstitui o rebordo alveolar, permitindo o progresso do tratamento ortodôntico para o restabelecimento da estética do sorriso e da função mastigatória, com implicação satisfatória para a autoestima e a qualidade de vida do paciente”, pontua.

Assistência e ensino
Segundo o professor Cristiano Tonello, chefe técnico da Seção de Cirurgia Craniofacial do Centrinho-USP, docente do Curso de Medicina da FOB-USP e um dos organizadores da Semana, um dos objetivos dessas forças-tarefas é otimizar a logística do centro cirúrgico e das equipes para procedimentos conforme as necessidades.
“O tratamento das fissuras tem diversas fases. Temos uma situação mais controlada nas etapas iniciais, que são as cirurgias reparadoras do lábio e palato. No momento, há demanda maior para etapas sequenciais, como o enxerto ósseo, e iniciativas assim nos permitem gerenciar melhor essas demandas”, explica o médico.
“Essa foi uma ação de grandes proporções, mesmo em nível mundial, considerando a quantidade cirurgias desse porte no período de uma semana. Envolveu diversas equipes do Centrinho-USP, das áreas de Cirurgia Plástica, Cirurgia Craniofacial, Cirurgia Bucomaxilofacial, Otorrinolaringologia, Anestesiologia, Enfermagem, Serviço Social e pessoal administrativo e de apoio”, destaca Tonello.

Superintendente do Centrinho-USP e coordenador do Curso de Medicina da FOB-USP, o professor José Sebastião dos Santos salienta que “é importante a instituição se organizar para tocar a rotina e abrir esses espaços com vistas a minimizar o efeito da espera e propiciar o tratamento adequado na melhor oportunidade e melhor momento”. “Houve uma cooperação muito grande entre os profissionais das diversas especialidades”, reforça.

A Semana de Cirurgia de Enxerto Ósseo de Bauru contou ainda com a participação dos estudantes dos cursos de Medicina e Odontologia da FOB-USP e dos programas de Residência Médica e Multiprofissional e de Prática Profissionalizante do HRAC-USP, que acompanharam as cirurgias sob supervisão.
“Além do caráter assistencial, de viabilizar resolutividade no processo de reabilitação dos pacientes, a iniciativa teve importante viés acadêmico, foi uma experiência diferenciada na formação dos futuros médicos, cirurgiões-dentistas e especialistas”, assinala Tonello.
Para o professor José Sebastião, “a iniciativa também foi importante para os estudantes, que puderam participar dessa força-tarefa que teve uma grande integração entre diferentes categorias profissionais para produzir um resultado muito relevante para os pacientes”.

Miguel Luz Vilela Engel Vieira, 21 anos, estudante do segundo ano do Curso de Medicina da FOB-USP, diz que essa foi a primeira oportunidade de acompanhar uma cirurgia. “Tivemos a chance de conhecer um pouco da dinâmica do centro cirúrgico. Pudemos acompanhar o processo de preparação do paciente, anestesia, cirurgia, até a retirada da medicação também. Deu para integrar bastante conteúdo que tivemos, como intubação de paciente, abordagem das vias aéreas. Foi uma experiência bem positiva”, avalia.
(Reportagem: Tiago Rodella, HRAC-USP)