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(Português do Brasil) Retorno especial: paciente número 1 do Centrinho-USP de volta ao Hospital

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(Por Tiago Rodella, 25/11/2013)

Em meio à multidão, no ambulatório, enquanto aguarda ser chamado, ele é um entre os mais de 300 pacientes que passam diariamente pelo Hospital de Reabilitação de Anomalias Craniofaciais (HRAC/Centrinho) da Universidade de São Paulo (USP), cada um com sua história e suas necessidades.

Mas o retorno de Walter Saito neste mês de novembro para atendimento nas áreas de otorrinolaringologia e de prótese odontológica é especial. Afinal de contas, ele é o primeiro paciente do Centrinho-USP. Isso mesmo. É dele a matrícula número 1 deste hospital fundado há 46 anos, impulsionado por uma pesquisa que identificou que uma a cada 650 crianças nascidas apresentava fissura labiopalatina (abertura na região do lábio e/ou palato – céu da boca – ocasionada pelo não fechamento dessas estruturas durante a gestação dos bebês).

Do que tempo em que chegou para o início do tratamento para cá, muita coisa mudou. Hoje, o Hospital tem mais de 90 mil pacientes matriculados, 53 mil só na área de anomalias craniofaciais. “Lembrar daquela única e pequena sala, ainda lá em cima (na época, o atendimento era realizado em sala da Faculdade de Odontologia de Bauru – FOB), com uma mesa cheia de próteses e outra para o atendimento, quando se iniciava esse tipo de tratamento no país, e hoje poder ver a dimensão que isso tudo tomou é muito emocionante”, relata Walter. “É um orgulho para mim ser o primeiro paciente do Centrinho e acompanhar a grande evolução do Hospital. Isso marca muito a vida da gente”.

Para Walter, falar de Centrinho também é lembrar de pessoas que estiveram muito próximas e envolvidas no seu tratamento. “É impossível esquecer do Dr. Wadi Kassis (primeiro cirurgião-plástico do Hospital, falecido em agosto de 2013, aos 79 anos), do Dr. Gastão (José Alberto de Souza Freitas, fundador e ex-superintendente do Centrinho), do Hélio Miyashiro (técnico de laboratório de prótese durante 40 anos, encerrou a carreira em outubro deste ano, quando completou 70 anos), do Dr. Heli Brosco (um dos primeiros cirurgiões-dentistas do Hospital), do Dr. Reinaldo Mazzottini (cirurgião bucomaxilofacial) e de tantos outros”.

Família reunida: Luciana, Ione, Sr. Walter e William; filhos visitam Centrinho pela primeira vez

Nascido em Campos do Jordão (SP), hoje Walter tem 63 anos e, ao lado da esposa, a bauruense Ione da Silva Cruz Saito, 57 – com quem é casado há 32 anos –, teve um casal de filhos: Luciana, 31, e William, 27, ambos cirurgiões-dentistas. Walter residiu em Bauru dos 10 aos 21 anos de idade e, desde que se formou em engenharia elétrica pela Faculdade de Engenharia de Bauru (hoje Unesp), vive com a família em Mogi das Cruzes (SP).

Walter aposentou-se numa indústria automotiva, mas trabalha até hoje como autônomo, prestando consultoria na área elétrica para empresas. “Se não fosse todo o processo que passamos por aqui, se não fosse essa reabilitação, se não fosse o apoio da família, acho que a sociedade não nos receberia bem”, reflete. “As pessoas que nascem com fissura passam por muito constrangimento, sofrem muito preconceito, são olhadas com discriminação”, afirma sua esposa, Ione. “Até quando conversava comigo, antes, ele procurava esconder a região da boca com a mão”, conta.

Para o casal, antigamente, esse estigma na sociedade era bem forte. “As coisas não eram tão esclarecidas e conversadas como agora”, diz Walter. “Hoje, melhorou muito, mas as pessoas sempre querem o que há de mais bonito, de mais perfeito, e a vida não é assim, tudo tem o seu valor”, ressalta Ione. “Quando vou ao supermercado, por exemplo, faço questão de levar aquela abóbora com um pequeno amassado, aquela laranja com um defeitinho de nada, porque, se eu não comprar, tenho certeza que vai ser descartado”, compara.

Walter e Ione estão hospedados na casa de familiares em Bauru, e retornam para Mogi das Cruzes nesta semana. No olhar de ambos, é fácil notar que voltarão para o lar com o coração cheio de boas recordações. E, entre reencontros e abraços apertados com um e outro funcionário, Ione confirma essa impressão: “Walter, precisamos vir aqui mais vezes, rever essas pessoas. Que coisa boa”.

Assessoria de Imprensa HRAC-USP

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